
Evaristo, zungueiro de lâminas de barbear
Fizemos uma passagem pelo mercado do S. Paulo, mais uma vez auxiliados pela nossa querida Laurinda Gouveia, para ouvir um pouco como tem sido a rotina das vendedoras e vendedores daquele mercado onde o formal e o informal convivem.
Não nos deixou minimamente espantados constatar mais do mesmo: uma interminável lista de abusos de autoridade protagonizados por agentes da Polícia Nacional e dos intragáveis “fiscais”, incorrendo em várias contravenções penais que, num país normal, redundariam em suspensão, irradiação da corporação e pesadas penas de prisão.
Mas aqui é Angola, tudo pode, desde que oficialmente mandatado pelo Estado, o mesmo Estado que se coloca como garante da constituição (art. 56º) mas que a vandaliza inescrupulosamente, sob disfarce de fardas e patentes.
Esta história não é nova. Estamos fartos de a ouvir e de a ler, mas estamos mais fartos ainda de ter de assistir o mesmo filme, com os mesmos protagonistas, com o mesmo final, sem podermos mudar absolutamente nada.
Estamos fartos de sermos impotentes para a reescrever, para adicionar a nossa pitada, para contribuir para um final um pouco menos dramático.
Resta-nos insistir em denunciar sistematicamente estes abusos, até que a vergonha possa finalmente obrigar o realizador desta longa metragem de terror a mudar o guião.